*Guilherme Fainberg
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Todo amor é em si incondicional, mas toda relação humana traz consigo uma obrigação de condicionalidade. Mesmo o amor terno, primeiro depende de condições muito bem estabelecidas para acontecer de maneira suficientemente boa e a contento.
Precisa-se de um bebê disposto e de uma mãe boa que irá amar e frustrar seu bebê. Ele assim passará a entender os limites do mundo que o cerca e estabelecerá com este, um vínculo de dependência saudável. Todo o ser humano é dependente. No entanto, podemos escolher do que e de quem e modular a intensidade da dependência. As primeiras escolhas objetais e a dinâmica que se impõe entre o ‘eu’ e o ‘objeto’ são aquilo que determina a natureza das relações.
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Nada é essencial, tudo existe em relação ou comparação e a todo tempo podemos rever essas opções. Quando ainda pequenos nos deparamos com a cultura, o mundo longe dos olhos de nossos pais, e condicionalmente nos entregamos a relações, e estabelecemos vínculos segundo e seguindo aquilo que somos e podemos vir a ser em um devir.
Em cada nova empreitada nosso self é testado. A capacidade de estar só, na ausência de uma pessoa querida, suportar e lidar com a falta, sendo isto manifestado como vontade, fome ou saudade nos aponta para nossa própria tolerância à ausência, em outras palavras, trata-se da possibilidade de lidar com o abismo. Já na presença do autor (objeto, pessoa ou situação) estabelecemos relações aonde nos doamos até certa medida e esperamos recolher algo que se insira nessa falta.
A incondicionalidade nas relações, as torna tóxicas, ruins e deletérias, pois toda relação precisa de bordas, limites e de um não estruturante que edifica e fortalece as dinâmicas destas. Um mundo regido sem limites seja interno ou externo nos mergulharia em um caos e em uma escuridão aonde dois corpos estariam morando um dentro do outro, mas nenhum em lugar algum.
*Guilherme Fainberg é médico psicanalista |